O Ser, simbolizado pela sílaba Oṁ é todo o conhecimento. Porém, para nós, ele está “encoberto” pela ignorância. Por causa dessa ignorância, existe o samsārī: o indivíduo que se enxerga como alguém limitado e, portanto, repleto de problemas. Mesmo assim, o conhecimento sempre esteve ali. Nunca foi criado. A ignorância, também, não foi criada. O que é criado é o equívoco, opinião, crença e afirmações infundadas, especulações, etc. É como tentar colocar o ilimitado em palavras; descrever o Ser não é possível. É, simplesmente, especulação. O Ser é anīrvacanīyam; não pode ser descrito por palavras. Mas isso não significa que ele seja uma especulação. Você existe. Não há dúvidas sobre isso. Por isso, o Ser pode ser apontado; não definido, pela palavra satyam. Como aquilo que não pode ser negado.

A sílaba Oṁ, simboliza, aqui, o Veda, como esse corpo de conhecimento que não é atribuído a alguém. É apauruṣeya; ou seja, não foi composto pela humanidade. Corroborando com essa ideia de que o conhecimento nunca foi criado; ele sempre existiu.

Esse conhecimento não é fruto de um intelecto. Pois um intelecto, sendo limitado, não cria conhecimento ilimitado.

A Bhagavad Gītā diz:

Yadakṣaraṃ vedavido vadanti

Viśanti yadyatayxo vītarāgāḥ

Yadicchanto brahmacaryaṃ garanti

Tatte padaṃ saṅgraheṇa pravakṣye (BG 8;11)

Eu lhe falarei, brevemente, sobre esse objetivo, que não está sujeito ao declínio. Sobre o qual, aqueles que entendem o Veda, falam quando abrem mão do desejo; ainda desejam (moksa) e levam uma vida de estudos e disciplinas.

Um mantra se inicia com a sílaba sagrada Oṁ. Este Oṁ, é um símbolo de Īśvara. Śrī Kṛṣṇa fala sobre três nomes de Īśvara: Oṁ, tat e sat. 

“Oṁ tatsaditi nirdeśastrividho brahmaṇassmṛtaḥ” (BG 17;23). 

“Oṁ tat sat”, assim foi declarada a triádica designação de Brahman.

Um som pode ser de dois tipos: dhvani ou śabda. Dhvani é um som comum, que não pode ser atribuído à uma língua. Não possui um significado, embora possa ser significativo. O som de um sino é um dhvani. Varṇa é a sílaba de uma língua. Por exemplo, a palavra rama, em sânscrito, possui três sílabas: r, ā, e ma e possui um significado. Oṁ se aproxima mais de um dhvani do que de um śabda. No Bhagavatam, o Oṁ é comparado com o sino de um templo. De fato, o objetivo de um sino em um templo é lembrar ao devoto do som do Oṁ. O seu som começa no silêncio, tem um pico e depois suavemente desaparece, assim como o sino. Desta forma, tanto o sino quanto o som do Oṁ, conduzem a mente à uma estabilidade, ao se firmar apenas no som.

Todos os cantos védicos começam e terminam com Oṁ. A essência de todo o Veda está contida no Oṁ. É o som primordial, a partir do qual, todos os outros sons do universo podem se manifestar. É dito na Kaṭhopaniṣad:

Sarve vedā yat padam āmananti tapāṁsi sarvāṇi ca yad vadanti |

Yad icchanto brahmacaryaṁ caranti

Tat te padaṁ saṁgraheṇa bravīmyom ityetat || Katha Upaniṣad 1;2;15)

Aquele objetivo que todo o Veda ensina, o qual todas as austeridades são indicadas e, desejando o qual as pessoas levam uma vida de estudo e disciplina. Sobre esse objetivo, eu lhe falo de forma resumida. Este é o Om.

Etadālambanaṃ śreṣṭhametadālambanaṃ param

etadālambanaṃ jñātvā yo yadicchati tasya tat (Katha Upaniṣad1-2-17)

“Este Oṁ é a melhor âncora. É a suprema âncora. Aquele que contempla nesta âncora, conquista tudo aquilo que busca.”

Quando a mente está agitada, o canto do Oṁ a torna calma. O poder deste som é único no que se refere a aquietar a mente. Este som, foi recebido pelos rṣis védicos. Īśvara se manifesta através deste som. Pode-se apreciar Īśvara através de atributos (como imagens, etc) ou mesmo, livre de atributos, como o Absoluto. Em ambos os casos, Oṁ é aquilo que mantém a mente firme em Īśvara.

Todo empreendimento começa com um mantra, ou uma prece em homenagem a Īśvara, que é a própria inteligência que rege o universo, ou, os mestres que nos transmitiram este conhecimento ao longo do tempo.

Īśvara possui infinitos nomes, mil nomes, cem nomes, vinte e quatro, ou dez, então, há três. Há apenas um. E este é Oṁ. Oṁ não é um som particular de uma língua; é o som do Absoluto.

A Chandogya Upanishad diz:

Tenobhau kuruto yaścaitad evaṁ veda yaś ca na veda. Nanā tu vidyā cāvidyā ca; yad eva vidyayā karoti śraddhayopaniṣadā, tad eva vīryavattaram bhavatīti, khalu etasyaivākṣarasyopavyākhyānam bhavati (1.1.10)

Aquele que conhece e aquele que não conhece OM; ambos realizam suas práticas com ele. Porém o entendimento e a ignorância produzem resultados diferentes. O resultado de tudo aquilo que é feito com o entendimento sobre a sílaba Om, com confiança nos professores e no Veda e de acordo com o dharma é mais significativo. Essa é a relevância dessa sílaba.

A sílaba Om é a forma sonora do absoluto; brahman. Assim, afirma o Veda. Quem já estudou o Veda, reconhece brahman, como a sílaba Om. Contemplamos o significado do Om, como aquilo que somos; o todo. O Om conduz a mente à contemplação daquilo que é livre de atributos (nirguna brahman). Porém, contemplar a sílaba Om, através de uma das formas de Īśvara, ainda é um exercício de meditação; saguna-brahma-upāsana.

Na meditação há dois tipos de símbolos. Um é verbal e se chama pratīka. O outro é físico; tem uma forma e, se chama pratimā. Em cima de ambos, podemos associar uma forma e, meditar sobre esse símbolo comovam representação de Īśvara.

Portanto, a sílaba Om, pode ser usada para upāsana, para quem ainda não tem o entendimento de Īśvara como o livre de limitação e, nididhyāsanam para aqueles que conseguem apreciar o todo.

A sílaba Oṁ, também simboliza a criação, a manutenção e a dissolução do universo. Brahmā, Viṣṇu e Śiva, respectivamente.

Essa sílaba é formada por três letras: A,U e M. Quando abrimos a boca, o primeiro som que emitimos é A. Isso simboliza a capacidade de criação. À medida em que fechamos a boca, esse som, vai transformando-se em U e, por fim, quando a boca se fecha, o som transforma-se em M.

Portanto, simbolicamente, todos os nomes e formas que existem no universo, estão contidos nessa sílaba; desde o momento que a boca se abre, até o momento em que ela se fecha. Sendo assim, aquele que conhece o Oṁ, conhece tudo aquilo que existe.

Do ponto de vista linguístico, devemos compreender que Om não é uma palavra do sânscrito, portanto o seu som é universal; pertence à todas as línguas. Em todas as línguas, o primeiro som é A e o último é M e, em todas elas, todas as palavras estão compreendidas entre esses dois sons.

Essas letras, também simbolizam, respectivamente, os três estados da mente: a vigília, o sonho e o sono profundo.